Di Móveis - Edição 13 - page 21

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ENTREVISTA
| MARCO ARTIGAS
| EDIÇÃO
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inimigos. Mas eu digo que os críticos os colocam em
posições diferentes. Só que se você for pensar, ambos
estavam lutando pela mesma coisa, pois erammembros
do PartidoComunista.Batalhavam por um país melhor,
contra a ditadura.Embora um criticasse a obra do outro,
eles se respeitavam.
Como você disse, seu avô foi membro do Partido Comunista
Brasileiro.Como isso influenciou a vida e as obras dele?
Você não entende a obra do Artigas sem entender o
contexto histórico. Essa coisa da convivência, que é o
ponto chave da arquitetura dele,de você estar sempre se
relacionando com as pessoas.As casas que ele projetava
não tinham mil suítes, eram sempre com quartos pe-
quenos e salas e jardins grandes. Então isso era, se você
for pensar, essa relação de classes. Ele tirava o quarto de
empregada do projeto. Quando um cliente exigia um
quarto de empregada, ele colocava o quarto nomesmo
volume da casa.Não era como uma edícula no fundo.
Ele tirou essemodelo de casa grande e senzala que exis-
tia muito na arquitetura popular brasileira.No próprio
Edifício Louveira, o apartamento é assim.O quarto da
empregada tem a mesma janela do quarto do casal e a
melhor vista. Se vê todo o Pacaembu. É voltado para o
fundo,onde seria a área de serviço.Émuito legal.Cons-
truindo, o cliente nem percebia,mas ele estava fazendo
omanifesto dele.Não tenho dúvida de que ele forçava
essa convivência entre classes.Hoje é diferente, cada um
tem a sua suíte e a suaTV.Fica cadaum emum cantinho.
E a preocupação artística dele era tão grande quanto a social?
Ele não ia sentar e desenhar alguma coisa sem incorpo-
rar a plástica do desenho. Inclusive, até chamava vários
artistas para fazermurais epainéis nas suas próprias obras.
O (Francisco) Rebolo fez, assim como oMárioGruber
e uma série de outros amigos que foram colegas dele no
curso de desenho (Grupo Santa Helena).Como ele era
engenheiro-arquiteto, conseguia desenhar a estrutura.A
Rodoviária de Jaú é omaior exemplo disso.A estrutura
é totalmente desenhada. Inclusive,nofilmeVilanovaAr-
tigas –OArquiteto e a Luz, aminha irmã,LauraArtigas
- roteirista e diretora do documentário - encontrou o
mestre de obras da rodoviária e foi muito emocionante.
Ele assume que teve uma dificuldade, mas lembra que
oArtigas sempre encorajava todos a superar os desafios.
Ele tinha essa característica de mexer um pouco com a
comodidade damão de obra.
Quais seriam as principais características do estilo do seu avô?
Opontode partida é sempre a relaçãoda obra com a ci-
dade. Isso ele faz desde a casinha que projeta noCampo
Belo em 1942 até o último trabalho, em 1984. Sempre
está incorporando a construção com recuo e paisagismo.
O edifício à cidade e a cidade ao edifício. Ele também
explorava muito a iluminação natural, principalmente a
que vem da cobertura.Usava muito as cores vermelha,
amarela e azul nas obras. O concreto armado, que ele
tinha grande domínio na época, era outro recurso que
utilizava muito e, assim, conseguia fazer os grandes vãos
nos projetos.Eu acho que ele estava sempre um pouco à
frente do próprio tempo e sempre usando a maior tec-
nologia que tinha na época.
E seu avô inspirou e inspiramuita gente.Em que ele te inspira?
O discurso dele eramuito coerente com as atitudes dele.
Ele não era uma pessoa que ficava ditando regra e não
fazia nada. Ele fazia. Se você for em uma obra doArti-
gas,conseguirá entender umpoucoda personalidadedele.
Mas oqueeu achoquemaisme influenciaéopensamen-
to dele de tentar construir algomaior que a arquitetura.
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