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Mostrando perfeita simetria com a humildade que cerca os
grandes nomes, Zaha sempre frisou como o trabalho de um
arquiteto chamado Oscar Niemeyer (conhece?) recheou sua
atmosfera produtiva. Aos sete anos de idade, gravou em sua
memória aMesquita deCórdoba: “É claro que hámuitos ou-
tros lugares extraordinários,mas o contraste entre a escuridão e
a igreja central demármore é algo que nunca esqueci. Está sé-
culos à frentedos projetos híbridos que construímos hoje”, diz.
A “dama da arquitetura” sempre defendeu a genialidade de
Niemeyer. “Mas seu talento nem sempre é reconhecido com
generosidade. Seu estilo livre, sensual e extravagante foi julga-
do comoumpoucoornamental. A liçãodeNiemeyer é como
a arquitetura moderna pode se dar ao luxo de ser próxima,
chegar a pertencer ao lugar, em vez de se impor sobre ele. Ele
encorajou outros a buscaremmaior exigência, a querer con-
tribuir mais com os edifícios. Eleme deumuita força”, disse
Zaha, que no Brasil criou, em 2008, uma sandália plástica
para a grifeMelissa.
Atenta às mudanças e sempre flertando com a contempora-
neidade, Zaha avaliava que a “nova arquitetura” trouxe bons
ventos aos próprios arquitetos.Mas esse processonão tornara
fácil o trabalho. “Às vezes, os desafios são imensos. Houve
umamudança tremenda nos últimos anos e vamos continuar
com esse progresso”, afirmou.
ÓperaHousedeGuangzhou (China). Aobra totaliza 73milmetros
quadradosconstruídos emum terrenode 42milmetrosquadrados,
comamplaárea livre edois edifícios, amboscom salasde ensaio
eapoio, espaçosadministrativos, lobbies e lounges, cafeterias e
restaurante
Foto: GuoZhongHua / Shutterstock.com
Crédito: Ron Ellis / Shutterstock.com
OconceitoarquitetônicodoCentroAquáticode Londres
é inspiradopelasgeometrias fluidasdaáguaemmovimento,
criandoespaços eumambienteaoredorquerefletemas
paisagensdaorladoParqueOlímpico
Infelizmente, seu coraçãonão conseguiudar tempo ao tempo.
Melhor, então, acreditar que “Papai do céu”, nesse caso, tenha
tidomais pressa em renovar seus parâmetros arquitetônicos.
Antes de cumprir mais essa tarefa, Zaha, em 2015, sofreu pe-
sadas críticas por apresentar projetos com total desapego ao
dinheiro. Sua ideia futurística para o estádio daOlimpíada de
2020 (Tóquio)mostrouum orçamentodeUS$2bilhões. Foi,
evidentemente, descartadopelaorganização.Um fatoquepode
ligar seu gosto ao valor agregado é que suas obras viveram a co-
queluche dos anos que antecederam a quebra do já famigerado
BancoAmericano, em2008.
Passadas as grandes indagações, retornava à cena sempre com
aparições dramáticas, usando e abusando de vestidos e joias,
esculturais, diziamos críticos.No entanto, a arquitetura sem-
pre foi para elaum elemento sensorial.Onde víamos corredo-
res e escadas, sua sensatez ótica desenhava passarelas.
Mesmo assim, sua grande obsessão sempre foram curvas. O
prelúdio à era da ousadia nas curvas chegou à sede da BMW,
emLeipzig.Coincidênciaounão, a arquiteta feznascer, nogal-
pãoda fábrica automotiva, curvas que ligam seus pavimentos.
Sempre enxergou o concreto como massa de modelar, colo-
cava as curvas sempre adjacentes em seus projetos. Na longa
estrada da vida, incansável na arte de encantar, recheou capas
de revistas de moda e estilo. Ao terminar sua corrida, Zaha
cunhou o encantamentoderradeiro: construções têm opoder
de emocionar!
Foto: Elnur / Shutterstock.com
OCentroHeydarAliyev, noAzerbaijão, écomposto pordois sistemas: uma estruturadeconcretocombinadacomum
sistemade treliças espaciais